terça-feira, 22 de novembro de 2011

Boi Morto


Um amigo me escreve dizendo que ao fazer sua necessária e obrigatória remada matinal na Enseada do Pontal, em Ilhéus, passou por ele, levado pela corrente, um cavalo morto, com apenas as patas podendo ser avistadas por sobre as águas. Tal relato me fez lembrar, e, inevitavelmente, me levou a reler o poema Boi Morto, do Manuel Bandeira.

Boi Morto

Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Divido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvore da paisagem calma,
Convosco – altas tão marginais!
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai com o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi desconhecido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.