Jorge
Elias Neto
I
O poeta sabe a textura exata do sonho.
E por perceber que os números são símbolos
que poderiam arrastar seu povo,
foi o primeiro a se equilibrar nos destroços.
Não azulava as dúvidas com preces
e entendia a sujeira como um vício da realidade.
Caminhando em silêncio,
observou que a ausência de espaço
não havia poupado nem mesmo as sombras.
Homens desencontrados
cruzaram o limite da incerteza
e bradavam:
– Não pedi esse conflito.
Mas, na dúvida,
deixo a arma engatilhada!
Nunca foi do poeta o primeiro momento...
Poema publicado no livro Rascunho
do Absurdo (Flor & Cultura, 2010) dentro de um capítulo
intitulado Gaza, que é dedicado ao poeta palestino Mahmoud Darwish, autor do
antológico poema Carteira de identidade
que, por indicação do escritor Miguel Carneiro, o leitor poderá conferir clicando aqui.
Um comentário:
Caro Gustavo,
Pelo muito pouco que sei, há apenas um caminho para se alcançar a verdadeira poesia; este caminho consiste na busca incessante pela forma, adequando-se à idéia que a precede e a exige, e no preceito de que nada deve ficar além o necessário.
Na poesia não a lugar para o supérfluo ou para substituível.
Jorge Elias Neto, pelo que tenho apreciado em seus poemas desde seu "Verdes Verso", ao seu mais recente trabalho, "Rascunhos do Absurdo", com o qual, não faz muito tempo, gentilmente me presenteou, entende muito bem este preceito e, pelo visto, tem seguido e vencido este caminho.
Silvério Duque
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