Sempre
afirmei que Soneto do amor total, Soneto da fidelidade e Soneto da separação
formam a tríade dos poemas de Vinícius de Morais que mais gosto. São três
poemas onde se revela um lirismo sentimental, tipicamente romântico, nunca
abrindo mão do rigor métrico, rímico e, sendo o músico que foi, rítmico. A
esses três acrescento agora um quarto poema, Soneto da mulher ao sol, um
Alexandrino, diferentemente dos outros que são decassílabos.
SONETO
DA MULHER AO SOL
[Vinicius de Moraes]
Uma mulher ao sol — eis
todo o meu desejo
Vinda do sal do mar,
nua, os braços em cruz
A flor dos lábios
entreaberta para o beijo
A pele a fulgurar todo
o pólen da luz.
Uma linda mulher com os
seios em repouso
Nua e quente de sol —
eis tudo o que eu preciso
O ventre terso, o pêlo
úmido, e um sorriso
À flor dos lábios
entreabertos para o gozo.
Uma mulher ao sol sobre
quem me debruce
Em quem beba e a quem
morda e com quem me lamente
E que ao se submeter se
enfureça e soluce
E tente me expelir, e
ao me sentir ausente
Me busque novamente — e
se deixa a dormir
Quando, pacificado, eu
tiver de partir...
Duas palavras sobre o poema acima e
uma pergunta
A
forma indicativa deixa (penúltimo verso) no lugar da indicativa deixe, dominante ao longo
do poema, sugere a realização do desejo do poeta por parte da amada e não a
simples manifestação de um apelo que não se soubesse correspondido. No entanto,
o livro Para viver um grande amor (José Olympio. 8ª ed. 1973) traz a forma subjuntiva
deixe,
e não a indicativa deixa. Esse seria mais um erro de revisão ou uma sutil emenda
do autor?
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AQUI e relembre os sonetos do amor
total, da fidelidade e da separação.
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