Alberto
da Cunha Melo
Escrevo de cabeça baixa
por que levantá-la
depois?
Não o faça para ser
visto
pelos que passarem na
estrada.
Viver na mesma posição
mas deixando a alma
sair
pelos olhos e pela
boca,
como água a jorrar de
uma estátua.
Este é o tempo em que
Deus regressa
pelos quatro cantos da
casa.
Vem desenterrar o poema
do meu corpo e gritar
comigo.
Recebe-o diante do
espanto
dos amigos que não o
vêem,
tenho gestos
incompreensíveis
e digo coisas já
remotas:
Senhor, protege meu
poema
e obscurece com tua
sombra
os versos mortos, as
palavras
que sobram, o tempo
perdido.
Relação
externa:
Poema único, dividido
em 30 partes, é um dos mais belos da obra de Alberto da Cunha Melo. Foi escrito
no verão de 1967 e publicado originalmente em 1969, em separata da revista
Estudos Universitários, da Universidade Federal de Pernambuco. Está disponível,
AQUI:
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