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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
terça-feira, 6 de novembro de 2012
JUAN RULFO & LEMINSKI NAS RETRANCAS DE GUSTAVO FELICÍSSIMO
Por Carlos Verçosa
Gustavo
Felicíssimo, poeta paulista novobaiano, haikaista, editor e agitador cultural
em Ilhéus/Itabuna, com livro novo na praça: Procura e outros poemas. Lançamento da Mondrongo, a editora do Teatro
Popular de Ilhéus, com apresentação de Cláudia Cordeiro.
Felicíssimo
joga suas apostas na retranca pela ‘Procura’ de um novo fazer poético,
garimpando o gênero inventado pelo poeta pernambucano Alberto da Cunha Melo
[1942-2007]. Cunha Melo cultivou o metro octassílabo obsessivamente em sua obra
e registrou-os numa forma fixa, a que denominou retranca. Sua forma é de
4-2-3-2 versos, onde os dísticos têm rimas parelhas e as outras estrofes rimas
alternadas [versos 2 & 4 na quadra e 1 & 3 no terceto].
Imagino
que quem gosta do soneto deverá gostar muito também da retranca. [Nada a ver com o feio esquema tático adotado
e adorado pelos nossos técnicos vacilantes e preocupadíssimos em segurar seus
empregos nos times de futebol, jogando trancados na defesa e à espera de contra-ataques.]
A
retranca inventada por Cunha Melo, que também era jornalista, muito
provavelmente, foi assim batizada com inspiração na retranca jornalística,
texto sintético [pequena frase ou até mesmo uma palavra] que se usa sobre o título
para apresentar o tema da matéria. Já as informações complementares, análise ou
contextualização [que vem logo abaixo do título] é chamada de sub-retranca, ‘dialogando’
sempre com o título. Acredito que esse caráter sintético da retranca e da
sub-retranca jornalística tenha pesado na opção do nome pelo seu criador, poeta
e jornalista.
O
gênero poético que ele inventou resulta numa poesia breve e de leitura
facilitada, e vem sendo redescoberto e divulgado por novos poetas como Gustavo
Felicíssimo.
Como
quem ‘Procura’ acha, transcrevo, a título ilustrativo, dois poemas pinçados das
páginas 30 e 31 do seu livro. A primeira retranca lembra o escritor mexicano,
Juan Rulfo {1917-1986}, que impôs definitivamente o seu nome na melhor
literatura do planeta com duas obras magníficas: ‘Llano em llamas’ [‘Chão em
chamas’, contos, 1953] e ‘Pedro Párama’ [romance, 1955]. | Também fotógrafo de
mão cheia, Juan Rulfo é o autor da foto que ilustra esta primeira
transcrição-homenagem {ao próprio e aos voos do poeta, captados/cooptados por
Gustavo Felicíssimo}.
COMO DIRIA JUAN RULFO
No
começo o vento nos leva,
o
vento nos deve levar
em
suas asas sobre os campos
e
nos ensinar a voar;
no
tempo o vento se desfaz
e
o voo, solitário, se apraz;
densa,
na solidão do voo,
a
lira não está completa,
o
ocaso oferta um sobrevoo:
cortar
e cortar sem pudor,
cortar
sem acusar a dor.
A
segunda retranca de Gustavo Felicíssimo homenageia o querido irmão em poesia
Paulo Leminski [1944-1989], poeta em tempo integral enquanto viveu. Para
ilustrar escolhi a foto de Dico Kremer que ilustra a capa de “O bandido que
sabia latim”, biografia do Leminski pelo amigo Toninho Vaz.
REVISÃO DE LEMINSKI
Era
um poeta iconoclasta
beijando
modernos umbrais,
um
samurai à brasileira
medindo
o voejar dos pardais;
era
como se não bastasse
e
como em si não coubesse:
hoje
canta e vive na praça,
na
plenitude da palavra,
nos
bares, nos becos da raça,
na
luta de classes, nos livros:
anjo
louco, poeta vivo.
[by
Carlos Verçosa (poeta e jornalista), em manhã de saudades, 6 nov 2012]
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Breve resenha sobre Procura e Outros Poemas
Foi
publicado ontem, no Jornal Correio da Paraíba, um texto escrito por Astier Basílio,
jornalista e poeta que dispensa apresentações, sobre meu livro mais recente,
Procura e Outros Poemas.
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terça-feira, 28 de agosto de 2012
Hoje - Lançamento duplo de livros e belo sarau na Academia de Letras da Bahia
Nesta
terça-feira, 28, lanço em Salvador, na Academia de Letras da Bahia, a partir
das 19 horas, o livro Procura e Outros Poemas (Mondrongo Livros, 88p. R$ 20,00). Na oportunidade também será
apresentada ao público a obra Cantos deContar (Editora Paés, RS 50,00), obra inédita (com capa dura e numerada) de
Alberto da Cunha Melo. Haverá a participação de Cláudia Cordeiro (viúva e musa
do poeta), Silvério Duque e eu, sob mediação de Walter Ramos, em que será debatida
a obra de Alberto. O evento ainda contará com a participação de Marcela
Martinez em um recital poético.
Como
se pode ver, a noite promete ser muito agradável e todos estão convidados. Mais informações AQUI.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Um inédito de Alberto da Cunha Melo
Neste ano, em que se vivo estivesse, Alberto da Cunha Melo completaria 70 anos de vida, a Editora Paés, de Pernambuco, terra natal do poeta, lança em Salvador e Recife, Cantos de Contar, em uma justa homenagem a esse que foi, seguramente, um dos melhores poetas surgidos no Brasil nos últimos tempos.
A mim esses eventos trazem uma alegria dupla, primeiramente por poder receber Cláudia Cordeiro (musa e viúva do poeta) e o livro, tão bem cuidado por ela e a trupe da Paés, depois, pelo fato de ter a oportunidade de levar meu livro mais recente, Procura e Outros Poemas, ao público e amigos de Salvador e Recife, obra que é toda construída por Retrancas, forma poética e estrófica criada por Alberto da Cunha Melo.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Primeiras notícias sobre meu próximo livro
Vejam
que beleza a capa do meu próximo livro. A fotografia é de Jamison Pedra e foi escolhida por dialogar bem com certo aspecto de solitude que retrata o homem fragmentado, objetivo maior de Procura e Outros Poemas, sobre o qual o poeta Ângelo Monteiro, de Pernambuco, disse o
seguinte: "Gustavo Felicíssimo se tornou um verdadeiro continuador da
Retranca, esta forma estrófica que, inventada por Alberto da Cunha Melo,
constituiu a matéria prima de, pelo menos, duas de suas obras fundamentais —
Meditação sob os lajedos e Yacala — e que ganhou no autor de Procura e Outros
Poemas um componente lúdico e graciosamente aleatório que veio dar ao seu livro
uma nota pessoal à fórmula albertiana".
O
lançamento acontecerá na Feira do Livro de Ilhéus, dia 10 de Agosto.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Uma imagem para a história
Revisitando
o site PLATAFORMA PARA A POESIA, todo reformulado, e com um conteúdo pra lá de
formidável, encontro essa fotografia – tirada por Cláudia Cordeiro – que é o
flagrante e testemunho excepcional de um instante, onde se encontram nada menos
que dois dos maiores poetas da história recente do Brasil: Alberto da Cunha
Melo e Bruno Tolentino. Ambos fazem parte da minha formação de poeta e leitor.
Alberto, pela maneira ao mesmo tempo simples e sofisticada de tratar alguns dos
temas basilares da nossa existência. Bruno, pela sua cultura e coragem com que
enfrentou o debate sobre a literatura no Brasil. Abaixo, um poema de cada um
desses gênios.
CASA VAZIA
Alberto da Cunha Melo
Poema nenhum, nunca mais
será
um acontecimento:
escrevemos
cada vez mais
para
um mundo cada vez menos,
para
esse público de ermos,
composto
apenas de nós mesmos,
uns
joões batistas a pregar
para
as dobras de suas túnicas,
seu
deserto particular;
ou
cães latindo, noite e dia,
dentro
de uma casa vazia.
Nihil Obstat
Bruno Tolentino
É
preciso que a música aparente
no
vaso harmonizado pelo oleiro
seja
perfeitamente consistente
com
o gesto interior, seu companheiro
e
fazedor. O vaso encerra o cheiro
e
os ritmos da terra e da semente
porque
antes de ser forma foi primeiro
humildade
de barro paciente.
Deus,
que concebe o cântaro e o separa
da
argila lentamente, foi fazendo
do
meu aprendizado o Seu compêndio
de
opacidades cada vez mais claras,
e
com silêncios sempre mais esplêndidos
foi
limando, aguçando o que escutara.
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quinta-feira, 15 de março de 2012
O Presente
Alberto
da Cunha Melo
O que hoje recebes
e não podes pegar,
guardar
em panos e papéis
laminados,
é imperecível,
presente onipresente.
Estás com ele na chuva
e não temes que se
desfaça.
Estás com ele na
multidão
e não o escondes dos
mutilados.
O que não existe para
os homens
deles estará protegido,
o que os homens não
vêem
não poderão espedaçar.
Eis o que não te
denuncia
porque não tem face
nem volume para ser
jogado no mar.
Eis o que é jovem a
cada lembrança
porque não tem data
e série, para
envelhecer.
O que hoje recebes
não pode ser devolvido.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
O surfista
Kelly
Slater, o maior vencedor do surfe mundial, comemorou neste último sábado (11),
40 anos. Trata-se de um fenômeno, dono de 11 títulos mundiais e dez recordes na
história do surfe. A data foi lembrada pelos principais meios de comunicação do
mundo e, só pra variar, me fez recordar um poema, dessa vez de Alberto da Cunha
Melo, intitulado, justamente, O Surfista. Trata-se de uma retranca, forma poética
composta de onze versos octossílabos, criada pelo próprio Alberto, que é um dos
poetas brasileiros que mais gosto.
O
octossílabo dá ao poema uma cadência, um ritmo que o autor desestabiliza
propositalmente, alternando a cesura medial dos versos, que ora se encontram na
quarta sílaba, ora na terceira e até na quinta, recurso que nos faz pensar na
instabilidade própria do surfe.
No
poema, algumas metáforas redimensionam o esporte, em que o surfista, com a sua
prancha “desliza como uma lágrima” sobre o “instável chão do mundo”. Já o
dístico final sustenta aquela imagem de que surfistas sempre estão acompanhados
por lindas mulheres, “presente do oceano”. Realidade ou não, pelo menos o Kelly
Slater sempre andou acompanhado por verdadeiras sereias. Em sua lista de
namoradas, nomes famosos: a atriz americana Pamela Anderson e Gisele Bündchen.
Sua atual companheira é Kalani Miller, uma californiana de 20 e poucos anos e
dona de uma grife de biquínis.
O
surfista
Alberto da Cunha Melo
Equilibrado
sobre a folha
que
desliza como uma lágrima
pela
face daquela onda,
a
mais esperada, a mais alta,
ama
esse instável chão do mundo
que
lhe falta a cada segundo,
e
as paredes de transparência,
que
almas e corpos atravessam
ao
sol da súbita inocência:
na
praia, fêmeas o esperando,
como
um presente do oceano.
Em:
Dois caminhos e uma oração (2003). Pág.
126. Editora A Girafa.
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segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Oração pelo poema - Poema Nº 1
Alberto
da Cunha Melo
Escrevo de cabeça baixa
por que levantá-la
depois?
Não o faça para ser
visto
pelos que passarem na
estrada.
Viver na mesma posição
mas deixando a alma
sair
pelos olhos e pela
boca,
como água a jorrar de
uma estátua.
Este é o tempo em que
Deus regressa
pelos quatro cantos da
casa.
Vem desenterrar o poema
do meu corpo e gritar
comigo.
Recebe-o diante do
espanto
dos amigos que não o
vêem,
tenho gestos
incompreensíveis
e digo coisas já
remotas:
Senhor, protege meu
poema
e obscurece com tua
sombra
os versos mortos, as
palavras
que sobram, o tempo
perdido.
Relação
externa:
Poema único, dividido
em 30 partes, é um dos mais belos da obra de Alberto da Cunha Melo. Foi escrito
no verão de 1967 e publicado originalmente em 1969, em separata da revista
Estudos Universitários, da Universidade Federal de Pernambuco. Está disponível,
AQUI:
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segunda-feira, 11 de julho de 2011
Confissão de um velho boêmio
Toda vida devia ser
uma festa sem fim, velório
festivo da morte do tempo,
fogueira de azuis, crematório
ou, mesmo, hospital de lembranças
dos que nunca foram crianças,
e pularam toda a pureza,
ao invés de pular a corda,
dançar nas horas da beleza;
dos que hoje morrem sem saber
que festa acabam de perder.
Alberto da Cunha Melo
Saiba mais sobre esse formidável poeta clicando AQUI.
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