A tradução é do mestre Ildásio Tavares
Uma maçã de Dachau
Décimo oitavo dia de Nissan,
Primeiro mês do ano judeu, 21 de abril
Terceiro dia de Páscoa. Estou numa rua de trás,
[calçada de pedras.
“Liebling” uma vendedora de maçãs me diz
Mas não falo alemão. Ela sorri e balança a cabeça
Ao ver moedas de euro na palma da minha mão.
É uma bela maçã. Brilhando para mim
No meio da minha mão. E ainda
Não tenho a menor idéia de como ser sagrado.
Qualquer fruta, mesmo apenas o miolo
Ou somente descascada é santa
[quando você está solitário.
Ao crepúsculo, com uma xícara de chá
[pingado com rum, eu espreito
Por minha janela o lugar onde os vendedores
[ficam fora dos carrinhos
Até que a luz morre. comendo salmão branco,
Que vem num invólucro encerado, e meia laranja.
Algo tão belo tanto quanto desistir da semente
É solitário e descascar a fruta com fome é santo.
Se você planta uma semente de maçã num
[campo longe da cidade
Onde a neve nunca permanece, mesmo no inverno
E aquela semente vive, isto é uma coisa sagrada.
Não feito o peixe Gelfite. Agora mesmo
treze horas do leste, minha mãe
está no Brooklin, comprando duas libras
de salmão branco, carpa e agulhão.
É possível que o peixeiro
A conheça. A gente nunca acha espinhas no peixe,
É por isso que meus parentes sempre passam
A Páscoa na casa dos meus pais.
Fique com a pele, minha mãe dirá ao peixeiro
Mas ela fica com a cabeça, a semente
[e o miolo. A primeira
Primavera em que me lembro do cheiro
[daquelas espinhas
Frescas de peixe, eu tinha cinco anos.
[Era o cheiro de sal
E de carne da minha fome jovem. Minha mãe moerá
O peixe junto com água efervescente, noz moscada,
Vinho branco e cubos cuidadosos de aipo,
Enquanto pensa em algo sagrado.
Qualquer coisa como abrir mão da fome
Pela santidade, pelo sagrado coração da criança
Ainda não é bastante, não me mostrará como é amar.
[Não há nada
Comestível neste poema. Nada santo.
Somente uma maçã, com gosto de maçã, com cheiro
De maçã. Que mais poderia uma
Maçã significar aqui, em qualquer outro lugar santo
[é a mesma fruta doce. –
Mas nesta rua de pedra
Em Dachau onde minha avó
Conta-se que foi espancada até morrer
E ninguém disse Kaddish até minutos atrás,
[eu comeria
Seis milhões de maçãs perfeitas feito a que tenho
[na palma da mão sem senti-la cheia.
Eu abraçaria centenas de alemães, coreanos,
[católicos, taoistas, mulheres
E homens reais que amam ou odeiam, faria qualquer
[coisa para me livrar do antigo boxeador
[de sombra em mim que arrota nação
Em cada jab e largo gancho – semente
Que nunca comheceu um inimigo
Além de sua própria e escura imaginação
Não posso começar minha vida de novo. Os marcos
Que conheço estão todos nos poemas,
[não no coração do povo.
Não há marcos claros neste poema.
Quando vôo de volta para Troy, sobre o Atlântico,
Nova Iorque – casa – sua mó de máquinas de pedra
E fábricas de biscoito ardiam como números,
Para o quê minha própria juventude não tinha tempo
[ – dentro do ventre
Americano da abundância acima de nosso
[mundo sagrado.
Comerei desta maçã. A dividirei com minha mãe
[e irmãs junto a um halvah e quindins
Itapuã. 31
VII. 2009
An Apple from Dachau
It's the eighteenth day of Nissan,
the first month of the Jewish year, April 21st –
Passover's third day. I’m on a backways
[cobblestone street.
"Liebling" a woman selling apples says to me
but I don't speak German. She smiles, and nods
to the euro coins in my palm.
It's one fine apple, shining up at me
from the center of my hand. And still
I have no idea how to be sacred.
Any fruit, even just the core
or shed skin, is holy when you’re lonely.
At dusk, with a cup of rum-laced tea, I watch
out my window to where the vendors stay
[out at their carts
until the light goes dead, eating whitefish
from wax paper, and one half of an orange.
Something so beautiful as to give up seed
is lonely, and to shed its skin for hunger is holy.
If you plant an apple seed in the far town field
where snow never stays, even in winter,
and that seed lives, it’s a holy, holy thing.
Not like Gefilte fish. Right now
thirteen hours east, my mother
is in Brooklyn buying two pounds
of Whitefish, Carp and Pike flesh,
chances are the fishmonger
knows her: You'll never find bones,
it's why my relatives always have
Passover at my parent's house.
Keep the shed skin, my mother will
[tell the Fishmonger
but she's keeping the head, seed and core. The first
spring I remember smelling those fresh
fish bones, I was five. It was the salt smell
fleshwork of my young hunger. My mother will grind
the fish together with seltzer water, nutmeg,
white wine and finely diced celery ribs
while thinking about something sacred.
Anything so beautiful as to give up its hunger
for holiness, and shed its skin for the sacred childheart
is still not enough, won’t show me how to love.
[And there's nothing
edible in this poem. Nothing holy.
Only an apple, which tastes like apple, smells
like an apple. What else can an
apple mean here, in any other holy place it's
[the same, sweet fruit –
but on this cobblestone street
in Dachau where my grandmother
is said to have been beaten to death
and no one said Kaddish until a few minutes ago,
[I would eat
six million perfect apples as the one here in
[my palm and never feel full.
I’d embrace hundreds of loving and hating
Germans, Koreans, Catholics, Laotians, real women
and men, anything to let go of the ancient shadowboxer
in me who snorts nation
with each jab and wide hook – the one
seed who's never known an enemy
besides his own, dark imagination.
I can't start my life over. The landmarks
I know are all in poems, not in people's hearts.
There are no clear landmarks in this poem.
When I cross back over the Atlantic to Troy,
New York – home -- her milling ball quarry machines
and cookie factories burned like figures
my own youth had no time for – inside the American
womb of plenty up above our sacred, holy world
I'll eat this apple, I'll split it with my mother and
[sisters over halvah, macaroons.
Nota:
Recentemente o poeta estadunidense Jesse Waters passou um mês em Salvador, na UFBA, participando de um programa de intercâmbio através da Partners of Américas Organização.
sábado, 2 de janeiro de 2010
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Um comentário:
A minha felicidade
Desde que me cansei de procurar,
aprendi a encontrar;
Desde que o vento começou a soprar-me na face,
velejo com todos os ventos.
Friedrich Nietzche
Momentos bons pra nós todos juntos, separados porém conscientes
de quem somos e pra que viemos; que cada um tenha nítido sua missão.
Não nos esqueçamos de viver sempre entre sonhos e delírios
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