Orides Fontela fez uma poesia enigmática, cortante, que prima pela concisão, pela economia de recursos e densidade. A ela bastava dizer apenas o suficiente, deter-se no que é essencial. Difere muito da poesia minimalista ou do haikai, por exemplo, mas não raro leio seus versos como se lesse um koan.
ELEGIA (I)
Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?
O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico
O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que
o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —
mas para que serve o pássaro?
O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.
MÉDIA
Meia luz.
Meia palavra.
Meia vida.
Não basta?
Poemas do livro Transposição (1969)
ELEGIA (I)
Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?
O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico
O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que
o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —
mas para que serve o pássaro?
O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.
MÉDIA
Meia luz.
Meia palavra.
Meia vida.
Não basta?
Poemas do livro Transposição (1969)
3 comentários:
Tanto eu quanto João Filho já fizemos homenagem a Orides nos nossos blogs: compartilhamos a admiração.
Gustavo: mande um beijo para Noélia e para a barriga de Noélia, guardadora preciosa.
Orides educa, é duca.
Agora na identidade certa:
Orides educa!
Postar um comentário