Estou
em Vitória, Espírito Santo, onde às 14 horas, na Biblioteca Pública do Estado,
farei uma palestra – em evento da UFES – sobre o livro Rascunhos do Absurdo, de
Jorge Elias Neto, cuja poesia se inicia com uma questão ontológica basilar: o
sentido do Ser. Sua lírica insiste em um discurso de cariz filosófico, marcadamente
existencialista, e reflete o esvaziamento de valores do homem moderno,
abandonado em si mesmo e desnorteado ante a desestabilização de verdades
universais, frente às quais está solitário, pois imerso em um processo de
massificação, reificação e desumanização das relações. Trata-se de uma poesia
contemporânea, poesia do desconexo, do descontínuo, fragmentada, cujo discurso
denuncia um mundo que se desestruturou, ao mesmo tempo é a poesia que busca,
nesse mesmo mundo, uma nova construção de sentido para o homem. Para se ter uma
ideia da potência da poesia de Jorge Elias Neto, apresento a seguir um dos seus
poemas que estão entre os meus favoritos.
NOIR
Disseste
que a corda
apazigua
os desencantados.
Disseste
que a terra treme
nas
bordas do despenhadeiro.
A terra
não tem nada a ver
com teu
descontentamento.
Ela é
acima de qualquer suspeita.
É que a
luz só atinge tuas costas.
Hoje, a
estupidez não é mais um traço:
é um
demônio que se agiganta.
Um comentário:
Que bacana, Gustavo: "...viajar, viajar..."; falar de poesia. Quando li essa notícia, me veio este Poema Transitório, de Quintana. Sucesso em suas viagens para algum lugar e lugar nenhum.
"Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho
vagaroso com vagarosas
paradas
em cada estaçãozinha pobre
para comprar
pastéis
pés-de-moleque
sonhos
- principalmente sonhos!
porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar:
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando
sempre... Nisto,
o apito da locomotiva
e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é
[urgente!
... no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas."
(Baú de Espantos)
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