Quero
indicar aos amigos a leitura de Nihonjin, obra de Oscar Nakasato, vencedor do
1º Prêmio Benvirá de Literatura. Trata-se de um romance espetacular, em verdade
uma reconstrução histórica de alguns dos mais importantes aspectos da imigração
japonesa no Brasil, o que por si só vale a indicação, tendo em vista ser essa
uma vertente ainda pouco explorada na literatura brasileira. Mas o livro é
muito mais que isso. Sua trama foi competentemente construída ao rés dos
conflitos que marcaram a vinda e a vida daquelas pessoas oriundas de uma nação
cuja cultura é muito diferente da nossa.
O
protagonista é Hideo Inabata, “um japonês (nihonjin) orgulhoso de sua
nacionalidade”, e o narrador é seu neto, um observador privilegiado dos
acontecimentos que marcam não apenas a história e os conflitos do avó, mas a
transformação social pela qual passa toda
uma sociedade, em princípio trabalhadores rurais semi-escravizados, e com o
passar do tempo, comerciantes, profissionais liberais, agricultores.
As
dificuldades de adaptação, a saudade, os costumes, o orgulho, a disciplina de
um povo, enfim, os dramas, tudo é narrado em uma “linguagem objetiva”, mas
nunca pobre, “sem firulas”, mas antes de tudo bela, onde prevaleça certa necessidade
do autor por dizer nem mais nem menos que apenas o necessário, o que é feito
brilhantemente, pois no correr da leitura a nossa percepção é a de que tudo
está perfeitamente ajustado, as arestas aparadas, enfim, nada sobrando ou
faltando.
Em
Nihonjin, a tradicional literatura nipônica e a brasileira se interpenetram, mas
tal é a força e a leveza da narrativa de Nakasato que temos a impressão de que é
descendente direto de grandes ficcionistas japoneses, como Tanizaki, Okutagawa
ou Kawabata, três décimos, digamos, de uma literatura quase ignorada do público
brasileiro, mas tão antiga e rica quanto as melhores literaturas ocidentais.
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Confira AQUI artigo publicado no
Rascunho e uma breve entrevista com o autor.
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