Revisitando
o site PLATAFORMA PARA A POESIA, todo reformulado, e com um conteúdo pra lá de
formidável, encontro essa fotografia – tirada por Cláudia Cordeiro – que é o
flagrante e testemunho excepcional de um instante, onde se encontram nada menos
que dois dos maiores poetas da história recente do Brasil: Alberto da Cunha
Melo e Bruno Tolentino. Ambos fazem parte da minha formação de poeta e leitor.
Alberto, pela maneira ao mesmo tempo simples e sofisticada de tratar alguns dos
temas basilares da nossa existência. Bruno, pela sua cultura e coragem com que
enfrentou o debate sobre a literatura no Brasil. Abaixo, um poema de cada um
desses gênios.
CASA VAZIA
Alberto da Cunha Melo
Poema nenhum, nunca mais
será
um acontecimento:
escrevemos
cada vez mais
para
um mundo cada vez menos,
para
esse público de ermos,
composto
apenas de nós mesmos,
uns
joões batistas a pregar
para
as dobras de suas túnicas,
seu
deserto particular;
ou
cães latindo, noite e dia,
dentro
de uma casa vazia.
Nihil Obstat
Bruno Tolentino
É
preciso que a música aparente
no
vaso harmonizado pelo oleiro
seja
perfeitamente consistente
com
o gesto interior, seu companheiro
e
fazedor. O vaso encerra o cheiro
e
os ritmos da terra e da semente
porque
antes de ser forma foi primeiro
humildade
de barro paciente.
Deus,
que concebe o cântaro e o separa
da
argila lentamente, foi fazendo
do
meu aprendizado o Seu compêndio
de
opacidades cada vez mais claras,
e
com silêncios sempre mais esplêndidos
foi
limando, aguçando o que escutara.
4 comentários:
Bons poetas!
Belos poemas.
puxa, uma foto histórica... e com os poetas bem à vontade... gostei muito. Sem dúvida, dois grandes poetas de brasileiros dos últimos 50 anos.
Casa Vazia é um poemaço!
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