ITABUNA, 1950
(Bar, Jazz, Bogart)
Tinha tempo bastante a
desfrutar.
K.
Kaváfis
Baco adora quando desço
a praça
Adami, caminho do Elite
Bar.
Lá (no bar de
Emetério), busco o morno
canto, próximo às mesas
da sinuca;
observo os jogadores do
apostado,
os ases das tacadas. O
maior,
Zito Maleiro, já
tuberculoso,
captura a solidão da
bola sete;
o infinito resvala
sobre o verde
espaço de luz acabando
o jogo.
No ambiente etéreo,
Raleu, um Gable
de cabaré no rosto
juvenil,
confere ares de sonho
ao botequim.
O garçom vem. Peço um
vinho do Porto.
Ali, flagro o soluço do
gargalo,
o intumescimento da
taça e o rubro
trincolejar do vidro
satisfeito.
As vitrinas do balcão,
as prateleiras
alojando garrafas de
bebidas.
A roda de gamão; o
espelho e o rádio
Philips. Na sequência
das notícias,
um julgado de saxes e
trompete:
Duke Ellington,
atacando “Perdido”,
acende um risco de néon
na noite.
Sorvo o vinho do Porto,
calmamente.
Atento o ouvido para o
andar de cima,
ouço o ruído abafado da
roleta
na sensação das coisas
clandestinas.
Chegaram os amigos.
Planejamos
o que faremos do
frescor da noite.
Saímos. Vamos pela Rua
da Lama,
em direção à Zona, ao
Bar de Juca.
Lá ficamos até de
madrugada.
Por que pensar na
ciência dos abismos,
se temos muito tempo
pela frente?
Antes fazemos hora,
indo ao cinema.
Subimos a praça. Nunca
perdemos
em nossa idade um filme
de Bogart.
Florisvaldo
Mattos
Itabuna 102...
Minha cidade foi a
minha Alexandria
Terreno fértil que
gerou verso e cacau,
Um fruto mágico de
eterna fantasia,
Todo poeta do seu solo
fez quintal...
Cidade simples de onde
a vida se irradia
Feito semente de beleza
natural,
Meu sangue guarda seu
sabor de poesia,
Terra sem fim que luta
sempre contra o mal...
Minha cidade, pedra
preta da fortuna,
Celebra o nome do seu
povo de valor,
Também carrega o peso
ingrato do terror
De uma política
contrária ao grapiúna...
- Neste lugar
contradições geram o amor
Que mantém viva toda a
gente de Itabuna!
Piligra
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