domingo, 1 de novembro de 2009

Uma prosa sobre critério

Recentemente, a Editora Global publicou a coleção “Roteiro da poesia brasileira”, reunida em 15 volumes, divididos em períodos. Após o modernista, os livros são apresentados por décadas. Os volumes são: Raízes - por Ivan Teixeira, Arcadismo - por Domício Proença Filho, Romantismo - por Antonio Carlos Secchin; Parnasianismo - por Sânzio de Azevedo; Simbolismo - por Lauro Junkes; Pré-modernismo - por Alexei Bueno; Modernismo - por Walnice Nogueira Galvão; Anos 30 - por Ivan Junqueira; Anos 40 - por Luciano Rosa; Anos 50 - por André Seffrin; Anos 60 - por Pedro Lyra; Anos 70 - por Affonso Henriques Neto; Anos 80 - por Ricardo Vieira Lima; Anos 90 - por Paulo Ferraz e Anos 2000 - por Marco Lucchesi.
Interessa-nos aqui, uma discussão sobre esta última, organizada por Marcos Lucchesi, que não nos parece retratar a realidade da poesia brasileira nesta última década, por uma série de aspectos. O primeiro deles, como sempre, é a falta total de diálogo com a produção fora do eixo Rio/São Paulo. Ora, são 46 poetas contemplados, 25 do eixão, mais que a metade. De Sergipe e Alagoas, o livro contempla apenas um autor, e estes residem e publicam seus livros há muito tempo na Bahia. Dos estados do Ceará, Piauí, Pará e de Brasília, também só comparecem um autor a esta antologia. Da Paraíba, onde encontramos belíssimos poetas como Linaldo Guedes, Astier Basílio e Antônio Mariano, nenhum poeta consta. Também não há ninguém dos outros estados do Amazonas, de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, do Tocantins, Maranhão, Santa Catarina ou do Espírito Santo, onde vive e publica o poeta Jorge Elias Neto. Como se não bastasse, de Pernambuco, estado que possui uma cena literária contemporânea maravilhosa, provavelmente mais fértil que a do Rio de Janeiro, apenas quatro autores comparecem ao livro; de Minas e do Paraná são três poetas apenas.
Assim pergunto: esse é um roteiro da poesia brasileira na última década?
Em que pese a boa reputação do organizador, parece-nos mesmo que ele abriu mão da pesquisa e se valeu de indicações para construir sua obra, procedimento que não nos parece o mais adequado em tal circunstância.
Aqui na Bahia, o livro causou um debate acalourado no blog de uma das nossas conceituadas observadoras literárias, a Gerana Damulakis (eis o link: http://leitoracritica.blogspot.com/2009/10/roteiro-da-poesia-brasileira-anos-2000.html), mas infelizmente, como de praxe, aqueles que defendem as igrejinhas, o compadrismo literário, não se manifestaram de modo elegante, tampouco assinaram suas missivas (preferiram pseudônimos), e se furtaram ao debate. A peleja ainda rendeu um texto do poeta Silvério Duque sobre o assunto (ver em: http://leitoracritica.blogspot.com/2009/10/espaco-critico.html).
É evidente que toda antologia retrata, de algum modo, as preferências do seu organizador, mas sem um árduo trabalho de pesquisa ela poderá revelar sua face anacrônica, tornando-se, desse modo, inválida.
Enfim, como está grafado no próprio site da Global Editora, entendemos que o “descentramento geográfico, que se constitui num grande desafio aos olhos da crítica e do público” não ocorreu na obra aqui abordada.

Na próxima postagem ofereceremos ao leitor aquilo que entendemos ser um bom panorama da poesia feita na Bahia nos últimos dez anos.

2 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Concordo, Gustavo!

Paula: pesponteando disse...

oLÁ Gustavo, o foco literario apenas no eixo rio-sampa também já chamou minha atenção. e os autores baianos foram alvo de uma pesquisa. Pena que ñ consegui material suficiente...mas o resultado está no link abaixo...veja o que acha

http://pesponteando.blogspot.com/2009/06/encontros-e-desencontros-na.html

abaços paula