3 - Você acha possível manter o foco no haikai tradicional, considerando a variedade de gêneros praticados no Brasil?
GF – Sim, sem dúvida, entretanto, para o leitor comum, o haikai com rima e mais próximo do senryu é muito convidativo. O Paulo Franchetti, ao comentar o haikai de Guilherme de Almeida, afirma que este parece fracassar por conta da inserção do título, pois ele muitas vezes é determinante para seu entendimento e nos faz “reencontrar os limites da nossa própria tradição”. Concordo plenamente com ele. De tudo que vi em haikai, o título me parece ser mesmo o único artifício inserido no ocidente que é condenável. Por outro lado, se queremos um haikai marcadamente brasileiro, precisamos escrever mais sobre temas como o sertão, o futebol, o carnaval, samba, são João, maracatu, etc.
Os mais tradicionalistas dizem ainda que Issa, Busson e Basho, condenariam hoje a metáfora e a aliteração. Quem pode garantir? Contudo, é evidente que há recursos dispensáveis, mas me parece que há um ganho considerável para quem sabe utilizá-los bem. Contrariando alguns, eu diria que o haikai é um só, assim como o soneto ou a redondilha é uma só. A questão escolástica apenas mostra como é rica e diversa a poesia em si.
4 – O que você considera um bom haikai?
GF – Para um crítico honesto é impossível estabelecer o que é um bom haikai, pois são tantas as variantes. Cada um poderá estabelecer parâmetros de acordo com a estética que mais valoriza ou gosta, mas isso ainda é pouco, é preciso olhar o todo. Prefiro buscar perceber se o autor em questão, no conjunto de sua obra, demonstra possuir maior ou menor grau de consciência literária. Se ele executa bem aquilo a que se propõe e tem o que dizer, então, teremos um bom haikai.
Assim como há bons e maus poetas, há bons e maus críticos, mas estes jamais conseguirão grassar o todo. Fico com Shelley, para quem “os poetas são os autênticos juízes dos poetas dentro do tempo”.
5 – Na tua percepção, quem são hoje os nomes que merecem destaque como bons criadores de haikais?
GF – Não entendo porque muita gente se nega a responder diretamente esse tipo de pergunta. Além de poetas de gerações passadas, como Oldegar Franco Vieira e Abel Pereira, gosto muito de Anibal Beça. Aliás, fico muito feliz que um texto que escrevi sobre “Folhas da selva” tenha levado alguns leitores a buscarem o livro diretamente com o autor ou na internet. Dele, destaco o seguinte haicai:
Quando o gongo bate
é hora que aflora a espora
do galo em combate.
Também gosto de Saulo Mendonça, um poeta paraibano de muito talento e discernimento lírico. Aliás, ele escreveu um “haigato” que eu gostaria de ter escrito:
Um gato dorme
sobre a balança:
sono pesado.
Saulo foi uma grande leitura que fiz neste ano de 2009. Também escrevi sobre sua poesia, o texto foi bastante publicado em sites especializados e publicações literárias. Ainda o José Marins e a Teruko Oda gozam da minha admiração. Na área ensaística é inegável a contribuição do Paulo Franchetti e do Carlos Verçosa para a firmação do haikai no Brasil.
Três haikai que compus recentemente
vivo a ordenhar
as pedras do meu jardim –
minerais poemas.
ardendo em desejos
se inflama a gatinha em chamas –
ásperos gracejos.
esforço tremendo –
uma gaivota insistente
vai vencendo o vento.
GF – Sim, sem dúvida, entretanto, para o leitor comum, o haikai com rima e mais próximo do senryu é muito convidativo. O Paulo Franchetti, ao comentar o haikai de Guilherme de Almeida, afirma que este parece fracassar por conta da inserção do título, pois ele muitas vezes é determinante para seu entendimento e nos faz “reencontrar os limites da nossa própria tradição”. Concordo plenamente com ele. De tudo que vi em haikai, o título me parece ser mesmo o único artifício inserido no ocidente que é condenável. Por outro lado, se queremos um haikai marcadamente brasileiro, precisamos escrever mais sobre temas como o sertão, o futebol, o carnaval, samba, são João, maracatu, etc.
Os mais tradicionalistas dizem ainda que Issa, Busson e Basho, condenariam hoje a metáfora e a aliteração. Quem pode garantir? Contudo, é evidente que há recursos dispensáveis, mas me parece que há um ganho considerável para quem sabe utilizá-los bem. Contrariando alguns, eu diria que o haikai é um só, assim como o soneto ou a redondilha é uma só. A questão escolástica apenas mostra como é rica e diversa a poesia em si.
4 – O que você considera um bom haikai?
GF – Para um crítico honesto é impossível estabelecer o que é um bom haikai, pois são tantas as variantes. Cada um poderá estabelecer parâmetros de acordo com a estética que mais valoriza ou gosta, mas isso ainda é pouco, é preciso olhar o todo. Prefiro buscar perceber se o autor em questão, no conjunto de sua obra, demonstra possuir maior ou menor grau de consciência literária. Se ele executa bem aquilo a que se propõe e tem o que dizer, então, teremos um bom haikai.
Assim como há bons e maus poetas, há bons e maus críticos, mas estes jamais conseguirão grassar o todo. Fico com Shelley, para quem “os poetas são os autênticos juízes dos poetas dentro do tempo”.
5 – Na tua percepção, quem são hoje os nomes que merecem destaque como bons criadores de haikais?
GF – Não entendo porque muita gente se nega a responder diretamente esse tipo de pergunta. Além de poetas de gerações passadas, como Oldegar Franco Vieira e Abel Pereira, gosto muito de Anibal Beça. Aliás, fico muito feliz que um texto que escrevi sobre “Folhas da selva” tenha levado alguns leitores a buscarem o livro diretamente com o autor ou na internet. Dele, destaco o seguinte haicai:
Quando o gongo bate
é hora que aflora a espora
do galo em combate.
Também gosto de Saulo Mendonça, um poeta paraibano de muito talento e discernimento lírico. Aliás, ele escreveu um “haigato” que eu gostaria de ter escrito:
Um gato dorme
sobre a balança:
sono pesado.
Saulo foi uma grande leitura que fiz neste ano de 2009. Também escrevi sobre sua poesia, o texto foi bastante publicado em sites especializados e publicações literárias. Ainda o José Marins e a Teruko Oda gozam da minha admiração. Na área ensaística é inegável a contribuição do Paulo Franchetti e do Carlos Verçosa para a firmação do haikai no Brasil.
Três haikai que compus recentemente
vivo a ordenhar
as pedras do meu jardim –
minerais poemas.
ardendo em desejos
se inflama a gatinha em chamas –
ásperos gracejos.
esforço tremendo –
uma gaivota insistente
vai vencendo o vento.
4 comentários:
GF: uma arte extremamente difícil na sua elaboração (feitura), os haikais exigem, como os sonetos, muito engenho. O poema com versos livres conta com a melodia, com a distribuição dos versos no papel (inclusive do ponto de vista gráfico) para favorecer o resultado.
O terceiro é perfeito, o da gaivota. Perfeito, repito.
Oi Gustavo
Te convido pra um passeio :)
http://gikafreire.blogspot.com/2009/11/queridos-amigos-tenho-um-segredinho-pra.html
Abraço e voltarei por aqui!
Lírica
Gustavo
Teus Haikais são lindos!
Gostei muito!
Gi
Obrigado, pessoal, pelos elogios. Fazer haikai, principalmente os que estão de acordo com o protocolo tradicional, realmente, não é fácil.
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