Poemas de Ildásio Tavares
Caros leitores, não nos cabe aqui contestar o movimento que entrou para a história com a inadequada nomenclatura de inconfidência ou se Tiradentes possuía mesmo aquela improvável figura cristianizada, também não nos cabe contestar esse tedioso feriado que produz um desfalque bilionário à nação. Finalmente, saber que os inconfidentes não pleiteavam a independência do Brasil e que defendiam a manutenção da escravatura para os cativos que não tivessem nascido no país também não nos cabe, mas...
Nos cabe, sim, falar um pouco sobre o livro IX SONETOS DA INCONFIDÊNCIA, de Ildásio Tavares, publicado em 1999 em uma co-edição das Editoras Giordano e Lemos Editorial. Melhor, cabe informar que sob o título de "As Flores do Caos", esses poemas serão publicados em breve em Portugal, numa seleção de 68 sonetos do autor. Nos cabe também reproduzir um trecho da análise que Fábio Lucas fez sobre a obra do poeta de Itapuã. Ele diz: “Da leitura dos Nove Sonetos da Inconfidência, de Ildásio Tavares, nasce um novo conceito da linguagem poética aplicada à celebração de personalidades-símbolos da História brasileira.
Os nove sonetos se organizam entre cadeias de polarizações múltiplas. Por exemplo: o canto geral que pulsiona os versos evoca a epopéia como gênero, destinada a magnificar os feitos de homens que, no passado, ousaram ir além das fronteiras do possível para conduzir a bandeira da espécie, em gestos sobre-humanos. Os nove sonetos, porém, não deixam de reunir, em seu canto, o protesto e a indignação nascidos da injustiça, dramatizando-a. Reconquistam deste modo, o aval que o relato historiográfico buscava.”
Reproduzimos os sonetos III e IV:
III – O ALFERES
Meu coração é um arsenal de horrores
e dores que atropelam meu país.
Gargalha puta! Zomba, meretriz!
O dia há de chegar dos teus senhores.
Errei aonde? Fui eu só que errores
cometi? Eu confesso tudo ao juiz
e hei de morrer sem medo. O povo diz
que é de medo que morrem os desertores.
Mais vale um bom soldado que uma tropa
de covardes; de traidores; fanfarrões.
A cada dia um lhe cabe sua Termópilas.
Não temo a morte, a vida me dá asco.
Só eu é que garanto os meus colhões?
Então só eu errei. Chamam o carrasco.
Caros leitores, não nos cabe aqui contestar o movimento que entrou para a história com a inadequada nomenclatura de inconfidência ou se Tiradentes possuía mesmo aquela improvável figura cristianizada, também não nos cabe contestar esse tedioso feriado que produz um desfalque bilionário à nação. Finalmente, saber que os inconfidentes não pleiteavam a independência do Brasil e que defendiam a manutenção da escravatura para os cativos que não tivessem nascido no país também não nos cabe, mas...
Nos cabe, sim, falar um pouco sobre o livro IX SONETOS DA INCONFIDÊNCIA, de Ildásio Tavares, publicado em 1999 em uma co-edição das Editoras Giordano e Lemos Editorial. Melhor, cabe informar que sob o título de "As Flores do Caos", esses poemas serão publicados em breve em Portugal, numa seleção de 68 sonetos do autor. Nos cabe também reproduzir um trecho da análise que Fábio Lucas fez sobre a obra do poeta de Itapuã. Ele diz: “Da leitura dos Nove Sonetos da Inconfidência, de Ildásio Tavares, nasce um novo conceito da linguagem poética aplicada à celebração de personalidades-símbolos da História brasileira.
Os nove sonetos se organizam entre cadeias de polarizações múltiplas. Por exemplo: o canto geral que pulsiona os versos evoca a epopéia como gênero, destinada a magnificar os feitos de homens que, no passado, ousaram ir além das fronteiras do possível para conduzir a bandeira da espécie, em gestos sobre-humanos. Os nove sonetos, porém, não deixam de reunir, em seu canto, o protesto e a indignação nascidos da injustiça, dramatizando-a. Reconquistam deste modo, o aval que o relato historiográfico buscava.”
Reproduzimos os sonetos III e IV:
III – O ALFERES
Meu coração é um arsenal de horrores
e dores que atropelam meu país.
Gargalha puta! Zomba, meretriz!
O dia há de chegar dos teus senhores.
Errei aonde? Fui eu só que errores
cometi? Eu confesso tudo ao juiz
e hei de morrer sem medo. O povo diz
que é de medo que morrem os desertores.
Mais vale um bom soldado que uma tropa
de covardes; de traidores; fanfarrões.
A cada dia um lhe cabe sua Termópilas.
Não temo a morte, a vida me dá asco.
Só eu é que garanto os meus colhões?
Então só eu errei. Chamam o carrasco.
IV – O SILVÉRIO
Meu coração é de metal sonante
e se eu tivesse trinta corações
eu venderia todos. De ilusões
jamais viveu quem é comerciante.
Patrão sempre há de haver. A cada instante
o mundo está trocando seus patrões.
Mas o ouro é quem seduz as multidões
e das nações é o doce governante.
Quero viver a vida. De que adianta
mexer a terra e revolver a messe
se a merda a mesma merda ficaria?
Só o dinheiro a todo mundo encanta.
Se trinta corações hoje eu tivesse,
eu juro, todos trinta eu venderia.
Um comentário:
cara, demais por estar contente, lhe sou grato. Ante e antes a isso, muito bom é; lê-lo!
felipe
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