Recebi faz poucos dias os três livros de Haicai publicados pelo poeta paraibano Saulo Mendonça: “Libélula” (1990); “Pirilampo” (2005) e “Luz de Musgo” (2008). Os dois últimos compêndios em edição bililgue, Português/Espanhol.
Para os que não conhecem, salientamos que o haicai tradicional japonês possui exatas 17 sílabas, ou sons, como queiram, divididas em três versos, 5-7-5, cada verso iniciado geralmente com a descrição de uma cena da natureza, e uma preocupação com a inclusão do kigô (termo próprio de uma estação).
Entretanto, como é sabido, foi através dos franceses, com a publicação do livro “La Sensibilité Japonaise”, de Georges Boneau, que o haicai se disseminou pelo ocidente, contagiando poetas alemães, ingleses e também os norte-americanos, mas, sem a rígida disciplina nipônica, mais ou menos ao acaso, afirmou Guilherme de Almeida, um dos precursores do haicai no Brasil. Tal fato, aliado à liberdade poética, imaginamos, fez com que se estabelecesse, assim, uma estética haicaística diferente da original. No Brasil, muitos são os poetas que cultivam seus haicais desse modo.
Saulo Mendonça aplica em seus poemas essa estética tipicamente ocidental, mais preocupado com a captação de um instante que com elementos canônicos, como fizeram poetas reconhecidos como grandes haicaístas, entre eles Millôr Fernandes e Paulo Leminski. E assim vai tecendo com destreza e maestria os seus poemas, vejamos:
Pintassilgo no terraço
cantando ao amanhecer.
Meu relógio de parede.
***
Noite de primavera.
Um fruto caiu no lago
e amassou a lua.
Percebemos que nos poemas acima e em tantos outros de Saulo Mendonça, é perfeita a captação do momento, aquela percepção inspirada, ou como dizem os japoneses: "anotações poéticas e sinceras de momento de elite". Como afirma Rosa Clement, "transmitir com clareza esse momento tem sido um espinho no pé descalço do haicaísta".
Foram essas as qualidades da poesia de Saulo Mendonça que nos chamou a atenção quando a conhecemos através de um texto de Amador Ribeiro Neto, para quem seu haicai "nasce da fonte mais pura, límpida, translúcida. Da busca da linguagem mais econômica e representativa. Milimetricamente posta no estreito caminho".
Tudo isso com muito lirismo e com uma consciência literária pouco vista atualmente. Senhor dos elementos que devem compor um poema, seja ele um haicai ou qualquer outra forma, o poeta vale-se do jogo semântico, das aliterações e da síntese para exprimir o momento de apreensão, gerando poderosas imagens que transcendem qualquer explicação, como podemos ver nos poemas abaixo:
Um gato dorme
sobre a balança:
sono pesado.
***
A moça nubente
resolvida, despe-se:
mais um sim
Desse modo, daqui da Bahia, saúdo a descoberta de Saulo Mendonça, um craque do haicai.
Para os que não conhecem, salientamos que o haicai tradicional japonês possui exatas 17 sílabas, ou sons, como queiram, divididas em três versos, 5-7-5, cada verso iniciado geralmente com a descrição de uma cena da natureza, e uma preocupação com a inclusão do kigô (termo próprio de uma estação).
Entretanto, como é sabido, foi através dos franceses, com a publicação do livro “La Sensibilité Japonaise”, de Georges Boneau, que o haicai se disseminou pelo ocidente, contagiando poetas alemães, ingleses e também os norte-americanos, mas, sem a rígida disciplina nipônica, mais ou menos ao acaso, afirmou Guilherme de Almeida, um dos precursores do haicai no Brasil. Tal fato, aliado à liberdade poética, imaginamos, fez com que se estabelecesse, assim, uma estética haicaística diferente da original. No Brasil, muitos são os poetas que cultivam seus haicais desse modo.
Saulo Mendonça aplica em seus poemas essa estética tipicamente ocidental, mais preocupado com a captação de um instante que com elementos canônicos, como fizeram poetas reconhecidos como grandes haicaístas, entre eles Millôr Fernandes e Paulo Leminski. E assim vai tecendo com destreza e maestria os seus poemas, vejamos:
Pintassilgo no terraço
cantando ao amanhecer.
Meu relógio de parede.
***
Noite de primavera.
Um fruto caiu no lago
e amassou a lua.
Percebemos que nos poemas acima e em tantos outros de Saulo Mendonça, é perfeita a captação do momento, aquela percepção inspirada, ou como dizem os japoneses: "anotações poéticas e sinceras de momento de elite". Como afirma Rosa Clement, "transmitir com clareza esse momento tem sido um espinho no pé descalço do haicaísta".
Foram essas as qualidades da poesia de Saulo Mendonça que nos chamou a atenção quando a conhecemos através de um texto de Amador Ribeiro Neto, para quem seu haicai "nasce da fonte mais pura, límpida, translúcida. Da busca da linguagem mais econômica e representativa. Milimetricamente posta no estreito caminho".
Tudo isso com muito lirismo e com uma consciência literária pouco vista atualmente. Senhor dos elementos que devem compor um poema, seja ele um haicai ou qualquer outra forma, o poeta vale-se do jogo semântico, das aliterações e da síntese para exprimir o momento de apreensão, gerando poderosas imagens que transcendem qualquer explicação, como podemos ver nos poemas abaixo:
Um gato dorme
sobre a balança:
sono pesado.
***
A moça nubente
resolvida, despe-se:
mais um sim
Desse modo, daqui da Bahia, saúdo a descoberta de Saulo Mendonça, um craque do haicai.
Um comentário:
ACABO DE VIR DO HAIKAI-L.
Gostei bastante dos haiku aqui apresentados do Saulo Mendonça.
Estou pensando sobre o que você falou lá.
Abraço!
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