terça-feira, 10 de abril de 2012

Um poema para Carlos Pena Filho


Estou trabalhando na compilação da obra seleta de Adelmo Oliveira, poeta baiano, natural de Itabuna e um dos mais celebrados entre um grupo de escritores notabilizados por serem profundos conhecedores da teoria do verso e exímios artífices, poetas que ficaram conhecidos como Geração 60.
Há inúmeros poemas de Adelmo que admiro, a exemplo dos belíssimos “Soneto da Última Estação” e “O Som dos Cavalos Selvagens”, ambos de fases distintas, mas devidamente selecionados para publicação, como também o que segue abaixo, que é “Pássaro”, dedicado a Carlos Pena Filho, um soneto no melhor estilo do vate pernambucano, todo vazado por decassílabos heróicos[i], onde o poeta exprime a sua solidariedade ao homenageado, e por conseguinte a todos os poetas, irmãos na solidão porque é nela que o ato de escrever se consuma.

Pássaro
 Para Carlos Pena Filho, ausente

Eu canto e se cantar por solidão
A rosa em mim floresce no silêncio
Ninguém perturbe a paz deste momento
Em cuja fantasia eu me transvio

Muito menos turve a água desta fonte
Que bebo para o instante inumerável
Acaso sei de mim que transitório
Sustento um pé na terra, outro no espaço

Sou, pássaro de pedra sou – Jamais
Neguei de expor ao sol meu corpo duro
Tenho postura de animal correto

Falo também a mesma língua escrita
Irmão que sou de tua solidão
Ó navegante além da mesma rota


[i] Assim denominado por ser predominante nos poemas épicos, como Os Lusíadas, de Camões.

Um comentário:

Jéssica do Vale disse...

Entregas-te ao sol
em devoção do mesmo
Mostra a tua solidão
que de forma amena
reconheço!

Belo Poema;
Sigo-o.