O
poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, escrito em julho de 1843, em Portugal,
é, provavelmente, aquele que mais fora parafraseado em nossa língua,
tornando-se - não apenas por isso - algo emblemático na literatura brasileira.
Inúmeros escritores o tomaram como referência, como por exemplo, o Drummond em
Nova Canção do Exílio, Mário Quintana em Uma Canção, ou Vinícius de Moraes no
seu belíssimo Pátria Minha. Até o nosso Hino Nacional trás dois versos do poema:
“Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida, mais amores.” Recentemente, quem
utilizou Canção do Exílio como ponto de partida para um novo poema foi Ferreira
Gullar, conterrâneo de Gonçalves Dias, que fez um poema, a meu ver, bem à
altura do original e, como o original, todo vazado por versos em redondilha
maior. Vamos a eles.
Canção do Exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui
gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais
estrelas,
Nossas várzeas têm mais
flores,
Nossos bosques têm mais
vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à
noite,
Mais prazer encontro eu
lá;
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem
primores,
Que tais não encontro
eu cá;
Em cismar — sozinho, à
noite —
Mais prazer encontro eu
lá;
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu
morra,
Sem que eu volte para
lá;
Sem que desfrute os
primores
Que não encontro por
cá;
Sem qu’inda aviste as
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Volta a São Luís
Ferreira Gullar
Mal cheguei e já te
ouvi
gritar pra mim: bem te
vi!
E a brisa é festa nas
folhas
Ah, que saudade de mim!
O tempo eterno é
presente
no teu canto, bem te vi
(vindo do fundo da vida
como no passado ouvi)
E logo os outros
repetem:
bem te vi, te vi, te vi
Como outrora, como
agora,
como no passado ouvi
(vindo do fundo da
vida)
Meu coração diz pra si:
as aves que lá gorjeiam
não gorjeiam como aqui
Um comentário:
Resumindo: os feras.
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