domingo, 16 de outubro de 2011

Sonetos gêmeos de Jorge Luis Borges


XADREZ
    
1.  
Em seu grave rincão, os jogadores
as peças vão movendo. O tabuleiro
retarda-os até a aurora em seu severo
âmbito, em que se odeiam duas cores.
   
Dentro irradiam mágicos rigores
as formas: torre homérica, ligeiro
cavalo, armada rainha, rei postreiro,
oblíquo bispo e peões agressores.
    
Quando esses jogadores tenham ido,
quando o amplo tempo os haja consumido,
por certo não terá cessado o rito.
    
Foi no Oriente que se armou tal guerra,
cujo anfiteatro é hoje toda a terra.
Como aquele outro, este jogo é infinito.

2.
Rei tênue, torto bispo, encarniçada
rainha, torre direta e peão ladino
por sobre o negro e o branco do caminho
buscam e vibram a batalha armada.

Desconhecem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e sua jornada.

Também o jogador é prisioneiro
(diz-nos Omar) de um outro tabuleiro
de negras noites e de brancos dias.

Deus move o jogador, e este a peleja.
Que deus por trás de Deus a trama enseja
de poeira e tempo e sonho e agonias?

2 comentários:

OFICINA DE CORDEL disse...

Somente quem o jogo joga e vibra, sabe o enredo que está aqui contido. Borges joga poesia como quem escreve xadrez. Este vou levar pros meus alunos.
Abreijos
Jotacê

Anônimo disse...

borges escrevia em espanhol. quem passou esses versos para o português?

a primeira vez q ouvi falar em borges, me lembro agora, foi num livro de xadrez q eu estudava aos 14 anos.

este verso, aliás, jamais saiu da minha cabeça: que diós detras de dios la trama empieza?

raim. bernard.