terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Renga para o Rio Cachoeira

A renga é uma forma poética japonesa largamente praticada por Bashô (ilustração ao lado), o grande mestre, e que, desde o século XVII, realça a arte da transição ao encadear, respectivamente, estrofes sasonais de três e dois versos escritos por dois ou mais autores. Originalmente, uma renga é composta de 36 estrofes, em homenagem aos 36 poetas imortais do Japão. Também é chamda de Kasen, poesia dos sábios.
Eu e o poeta George Pellegrini compusemos uma, da qual trago as cinco primeiras estrofes. Os tercetos são de minha autoria, os dísticos, evidentemente, são do meu parceiro. Esperamos que gostem!


I
madruguei chorando –
silenciou-se o grande rio
ao me ver nascer

o lusco-fusco da aurora
descortinou as estradas

II
e seguiu seu curso
infinito em suas curvas
terno em meu olhar

espelho d’água revela
outro rosto ensimesmado

III
silente e calado
ele desfez os mistérios:
canções ao luar.

os gritos da acauã
faziam o coro na mata

IV
puro em sua nascente
desce o rio cortando o campo
espalhando vida.

e na calma dos remansos
a morte sobe fecunda

V
e vai todo em brasa
dentro da noite ferida
onde os sonhos erram

os pesadelos comandam
a saída para o mar

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Adorei: fui seguindo o rio com os versos.