Evidente, cada ser sente o natal à sua maneira. Reuni três poemas de autores de tempos distintos, que veem a data sob prismas diferentes. Um deles é de minha autoria. Os outros são de Vinícius de Morais e Fernando Pessoa. Em Vinícius encontramos o binômio nascer/morrer, em síntese. Já em Pessoa há um quê de nostalgia, de melancolia, de solidão. Naquele que compus há um estranhamento frente à realidade do nosso tempo.
Poema de Natal
Vinícius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Poema de Natal
Fernando Pessoa
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Poema de Natal
Gustavo Felicíssimo
Dezembro é o cruel mês do natal,
hoje, a sua véspera,
além disso, faz um calor insuportável.
Há grande descontentamento no país,
enormes congestionamentos nas cidades
e as pessoas parecem felizes.
A miséria continua no seu galope
e as pessoas parecem felizes,
inclusive os miseráveis.
Esses se abundam nas calçadas
e mendigam com seus filhos
e com os filhos de outros desgraçados.
Negócio promissor...
Vou sair pra ver o mar!
Poema de Natal
Vinícius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Poema de Natal
Fernando Pessoa
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Poema de Natal
Gustavo Felicíssimo
Dezembro é o cruel mês do natal,
hoje, a sua véspera,
além disso, faz um calor insuportável.
Há grande descontentamento no país,
enormes congestionamentos nas cidades
e as pessoas parecem felizes.
A miséria continua no seu galope
e as pessoas parecem felizes,
inclusive os miseráveis.
Esses se abundam nas calçadas
e mendigam com seus filhos
e com os filhos de outros desgraçados.
Negócio promissor...
Vou sair pra ver o mar!
3 comentários:
"Vou sair para ver o mar!": colocou o poema lá em cima.
Vou ter coragem e assumir: não gosto da poesia de Vinícius. Que me joguem pedras!
Olá Gustavo, tenho visitado aqui e gostei muito dos poemas (vou sair pra ver o mar!)... ah! feliz natal! rs
Salvador, 18 de dezembro de 2009.
Querido Gustavo Felicíssimo:
QUE A LUZ DO INFANTE ILUMINE SEMPRE VOSSAS VIDAS!
"ESTRELA DO NATAL"
Carvalho Filho
É a estrela primeira da tarde, a que surge / alta e só num céu ainda claro / de silêncio e luz morrente, / em pleno espaço violáceo que coroa / os horizontes submissos do crepúsculo. //
A que arde lúcida além da alma dos longes / no escampo ar marinho, / tão intensa e solitária que nem no mistério / das águas anoitecendo ensimesmadas / se reflete. //
Queima no ermo a estrela virgem do Natal: / é asa de fogo, asa de fogo vencendo / num obscuro céu de memória. / É a anunciação apocalíptica da noite. / É a luz da Eternidade. //
Cintila única na tarde descolorindo / e no universo parado / a estrela rútila do Natal: / - sobre os morros flutuando na luz crepuscular / - sobre os mares exaustos / - sobre distâncias de tempo azul e cinza / - sobre distâncias siderais / - sobre a cidade satânica / - sobre o coração humano. //
É o espírito de Deus velando a treva. " IN BREVE ROMANCEIRO DO NATAL: Salvador; Editora Beneditina Ltda, 1972.
Miguel Carneiro
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