quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um poema de Silvério Duque

Tudo bem, alguém poderá me dizer que o poeta do azul é Carlos Pena Filho. O seu “Soneto do desmantelo azul” é mesmo uma jóia, mas esse heróico do Silvério Duque, convenhamos, tem seu lugar, um soneto espirálico, marcado por esse último verso: “pois no morrer do azul, nós retornamos”, que deixa o poema em aberto. Muito bom mesmo!

O CARROSSEL DE MARK GERTLER

O carrossel, de Mark gertler (1916):

à Senhora Claudia Cordeiro, un souvenir...

Para Carlos Pena Filho

Por que pintei de azul a nossa estrada?
Por não trazer um céu sobre os sapatos.
Então, busquei, em gestos insensatos,
despir, do azul, o Azul da madrugada.

Para exigir então o azul ausente,
que se espargiu em tuas alpargatas,
roubei de ti o azul das coisas gratas,
que, em teu olhar, nasceu tão simplesmente.

Mas, vestidos de azul, nem recordamos,
haver tantos azuis que azuis se amassem,
qual o Mar e o Céu, no azul, nos espelhamos...

E, perdidos no azul, nos contemplamos,
porque, do azul, as coisas sempre nascem,
pois, no morrer do azul, nós retornamos.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Excelente. E o verso final está perfeito, pede um suspiro após a leitura: belo soneto!