Por ser o que não sou é
que padeço.
Padeço um existir quase alternado
Entre tudo o que tenho e não mereço.
E o que mereço, nunca me foi dado.
Assim, o que não digo, reconheço
Ser o que mais por mim foi meditado.
O que revelo é paga - apenas preço
Do que também a mim foi ocultado.
Se esse existir se parte entre dois gumes
Posso ver pela noite vaga-lumes
E dizer que são luzes nos caminhos.
Maldito o que me vê como não sou:
Podendo dar-lhe mel, apenas dou,
Ocultos, entre pétalas, espinhos.
Padeço um existir quase alternado
Entre tudo o que tenho e não mereço.
E o que mereço, nunca me foi dado.
Assim, o que não digo, reconheço
Ser o que mais por mim foi meditado.
O que revelo é paga - apenas preço
Do que também a mim foi ocultado.
Se esse existir se parte entre dois gumes
Posso ver pela noite vaga-lumes
E dizer que são luzes nos caminhos.
Maldito o que me vê como não sou:
Podendo dar-lhe mel, apenas dou,
Ocultos, entre pétalas, espinhos.
Jorge (Emílio)
Medauar, poeta e contista, nasceu a 15
de abril de 1918, em Água Preta do Mocambo, sede do então distrito de Ilhéus,
hoje cidade e município de Uruçuca. Descende de pais sírio-libaneses, que
chegaram ao sul da Bahia em busca de melhores condições de vida, atraídos pelo
cultivo do cacau. Publicou os seguintes livros de poesia: Chuva sobre a Tua
Semente (1945), Morada de Paz (1949), Prelúdios, Noturnos e Temas de Amor (1954)
e Às Estrelas e aos Bichos (1956). Seu êxito maior viria, no entanto, a partir
de 1958, com o livro de contos Água Preta, ao que se seguiram A Procissão e os
Porcos (1960) e O Incêndio (1963), formando uma trilogia recebida com alto
apreço pela crítica. Foi um dos maiores contistas da época até o final da
década de 70. Escreveu ainda Histórias de Menino (1961) e O Visgo da Terra
(1996), este, um romance urdido com os seus contos sobre Água Preta e Ilhéus.
Participou de várias antologias nacionais e internacionais e, também
dedicavou-se à literatura infanto-juvenil.
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