breve comentário de Luis Dolhnikoff
Caro Gustavo, acabo de ler com calma a sua "Senda". Pois tomei um susto. Não sei o que esperava, mas sei agora que não esperava essa dicção e esse ritmo ominosos. Principalmente o ritmo. Não o identifiquei de imediato, o que é raro. Tive de contar para ver que se trata de octossílabos. O estranho é que esse metro, por incomum, costuma causar estranhamento, daí ter sido adotado por Cabral. Mas o efeito aqui não é de estranhamento. Esses versos têm uma "redondeza" quase decassilábica, mas como são mais curtos, me soaram como uma espécie de decassílabo adensado, condensado. Além disso, há esse decair de tom das rimas, que começam abertas na primeira estrofe e vão se agravando, se escurecendo. E os enjambements que talvez querem acelerar o ritmo, enquanto mais uma vez a redondeza de cada verso tende a autonomizá-los. E os ecos das rimas internas. O resultado, em suma, é redondamente tenso, ou de uma tensão arredondada, que resulta densamente no ominoso dito no início.
SENDA
Sou como o invisível céu
que não vos inspira cuidados,
pois retorno depois das névoas
sobre os campos abandonados;
sou finito e celebro o fogo
infindável do grande jogo
a nos enlaçar a garganta;
creio no vórtice da voz
sacrossanta que a tudo encanta:
trago os haveres desse mundo;
sou terra, sou campo fecundo.
Caro Gustavo, acabo de ler com calma a sua "Senda". Pois tomei um susto. Não sei o que esperava, mas sei agora que não esperava essa dicção e esse ritmo ominosos. Principalmente o ritmo. Não o identifiquei de imediato, o que é raro. Tive de contar para ver que se trata de octossílabos. O estranho é que esse metro, por incomum, costuma causar estranhamento, daí ter sido adotado por Cabral. Mas o efeito aqui não é de estranhamento. Esses versos têm uma "redondeza" quase decassilábica, mas como são mais curtos, me soaram como uma espécie de decassílabo adensado, condensado. Além disso, há esse decair de tom das rimas, que começam abertas na primeira estrofe e vão se agravando, se escurecendo. E os enjambements que talvez querem acelerar o ritmo, enquanto mais uma vez a redondeza de cada verso tende a autonomizá-los. E os ecos das rimas internas. O resultado, em suma, é redondamente tenso, ou de uma tensão arredondada, que resulta densamente no ominoso dito no início.
SENDA
Sou como o invisível céu
que não vos inspira cuidados,
pois retorno depois das névoas
sobre os campos abandonados;
sou finito e celebro o fogo
infindável do grande jogo
a nos enlaçar a garganta;
creio no vórtice da voz
sacrossanta que a tudo encanta:
trago os haveres desse mundo;
sou terra, sou campo fecundo.
OBS:
O termo “Ominoso”, neste texto possui o significado de “sombrio”. Diz o ensaísta: "há esse decair de tom das rimas, que começam abertas na primeira estrofe e vão se agravando, se escurecendo".
4 comentários:
Ominoso significa detestável. Não entendi então se foi um elogio ou uma crítica aos versos. De todo modo, o poema é muito bom.
Ominoso aqui, caro leitor, possui o sentido de "sombrio". Diz o ensaísta: "há esse decair de tom das rimas, que começam abertas na primeira estrofe e vão se agravando, se escurecendo".
Um de seus melhores poemas.
Grande poema de um grande poeta! Em breve devo postar alguns de seus poemas no Poesia Diversa. Um grande abraço.
www.poesiadiversidade.blogspot.com
Postar um comentário