neste dia nacional da poesia
I
Por que vieste assim, tão frágil,
sua vida beijando a morte,
se bebeu do leite da escrava
e se podia melhor sorte;
por que partiste muito jovem
se teus versos é que nos movem,
se teu canto é que nos conduz
sobre o éter dos novos dias,
caminho ao encontro da luz,
e por que não, sopro de vida
em meio à plêiade perdida?
II
Se nesta terra miserável,
irmã gêmea das asperezas,
floresce ainda a indiferença,
como cantar suas belezas
com ternura, feito um romântico,
se lá fora, de um modo drástico,
padece à luz do sol, à luz
da lua, o mesmo cativo,
o mesmo irmão de Jesus,
imagem e filho de um Deus
que insiste em faltar com os seus?
III
Se me disseres, nuvem negra,
que se amassa com os dois pés
o pão nosso de cada dia,
que na argamassa, a pontapés,
vai misturada toda angústia
para que seja a eucaristia
a comunhão dos desgraçados,
retrato fiel, sem retoque,
do firmamento desbotado;
devo crer, ainda, na fala
dessa voz grave que não cala?
IV
O que não muda com o tempo,
esperança estúpida e vã,
mudará mais o pensamento
na permanência do amanhã
ou será cera em nossas asas,
epitáfio em nossas covas rasas
porque jaz, muito a contragosto,
quem sobrevive nesta terra
e morre flébil, de desgosto,
por mentir com intensidade
antes de dizer a verdade?
domingo, 14 de março de 2010
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Um comentário:
Gostei muito, Gustavo.
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