Affonso Romano de SantAnna
Por
este instrumento faço saber
que
é verdade
o
que de mim dizem.
É
verdade o que alardeiam os inimigos
e
os amigos enfatizam.
Sou
tudo o que me pespegam.
Quando
me acanalham, é verdade,
e
é verdade
-quando
me embalam.
Jovem,
indignado,
tentei
com engenho e arte
separar
do trigo
a
outra parte.
Jã
não consigo. Renegar o joio
é
ter o trigo empobrecido.
Quando
me atiram pedras, é justo.
Quando
me atiram estrelas, quem sabe?
Não
vou de mim, de vós, viver a contrapelo.
Sou
como Ulisses
na
ida e no regresso:
-a
soma dos descaminhos
a
contradição em progresso.
(in “Poesia Reunida” L&PM-vol.2
p, 136)
Um comentário:
Demasiado humano. Fluido. Bem construído. Affonso Romano de SantAnna é realmente vocacionado para a poesia.
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