sexta-feira, 21 de maio de 2010

Morreu o poeta Damário Dacruz

Não tenho palavras para descrever o tamanho da perda ou o carinho que sempre tive por Damário Dacruz, um poeta que, se para mim não era dos melhores, ao menos havia criado um belo poema, “Todo Risco”. Não me esqueço da oportunidade que o recebi para um encontro dentro do projeto Soltando o Verbo, em Salvador. Prosa fácil, convincente e cativante, Damário deu um show para a plateia que lotou o espaço do Extudo, no Rio Vermelho. Em outra oportunidade, no Pouso da Palavra, em Cachoeira, adentramos na noite ouvindo Neruda, o poeta mais querido por Damário. Conversamos muito e esvaziamos algumas garrafas da melhor cachaça feita na Bahia.
Escrevo emocionado essas insuficientes palavras enquanto uma pergunta se agiganta: Porque os canalhas não se vão antes dos poetas?
Vai com todos os anjos e orixás, Poeta. Sentiremos sua falta!

Abaixo, uma entrevista que Damário concedeu a Revista Muito do Jornal A Tarde.

Qual é sua lembrança mais remota de querer ser escritor? Quando decidi dormir longe de todos. Tinha 15 anos e inventei um quarto para mim no porão da casa paterna.

Qual é o tema que acaba invadindo os seus poemas, mesmo quando você não quer? Todos os temas invadem a poesia. Mas, o efêmero, das coisas e dos sentimentos, anda sempre me cercando. Adoro relâmpagos e palavras rápidas no ouvido.

Você foi para Cachoeira atrás de que? Da pequena e forte aldeia que universaliza o poeta.

Você às vezes tem a impressão de que tudo o que era importante já foi escrito? Se sim, quem foi que já disse tudo? Ninguém é capaz de dizer tudo sozinho. Ninguém é grande sozinho. Somos uma mistura do muito que muitos nos dizem. Por incrível que possa parecer, acredito que a grande vedete deste milênio será a PALAVRA publicada em outros suportes

Escritor é um ser mais angustiado que as outras pessoas? Poeta mais ainda? Conheço gente bem mais angustiada fora da literatura do que dentro dela. A minha vida e a minha poesia estão distante disto. Elas estão a serviço, inclusive, da não-agonia humana.

Página em branco te dá pesadelo? Ao contrário. Produz o sonho das imensas possibilidades.

Qual foi o caminho que você evitou por medo, como diz em “Todo Risco”? O caminho da dedicação exclusiva à minha obra poética e fotográfica como muitos fizeram. Mas, obtive belos ganhos, por navegar em águas distintas.

Literatura é mais conforto ou agonia? As duas coisas na medida de cada um. Literatura substitui certas brincadeiras proibidas após a infância. Literatura é liberdade perseverante. E a Liberdade,às vezes, também doi.

Dê uma definição poética para a poesia. De vez em quando me perguntam para que serve a poesia. A minha resposta tem sido dada com duas perguntas e duas respostas: Para que serve a poesia ?, para fazer o homem. Para que serve o homem ?, para fazer poesia.

Todo risco
Damário Dacruz

A possibilidade de arriscar
É que nos faz homens
Vôo perfeito
no espaço que criamos
Ninguém decide
sobre os passos que evitamos
Certeza
de que não somos pássaros
e que voamos
Tristeza
de que não vamos
por medo dos caminhos

6 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Namastê!

Bernardo Linhares disse...

Damário foi, talvez, o ser humano mais bacana que conheci no meio literário baiano.

Bernardo Linhares disse...

Damário foi, talvez, o ser humano mais bacana que conheci no meio literário baiano.

O Neto do Herculano disse...

Todo Risco me acompanha há muito tempo. Triste o Recôncavo.

Gerana Damulakis disse...

Perda dupla: o poeta e o amigo.

Raymundo Luiz Lopes disse...

Conheci o Damário há mais de 30 anos. Ao longo desses anos aplaudi a sua coragem/dedicação para realizar seus ideais, notadamente, o 'Pouso da Palavra' em Cachoeira, onde quase sempre o encontrava. Muito bom os papos, a curtição, naquele espaço. A última vez que vi o amigo foi no ano passado e notei que o seu sofrimento aumentava. Agora ele está livre do tormento humano.