quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dois poemas de Firmino Rocha

ESPERA

Não acordar a palavra.
Deixar que ela sinta no silêncio
os frêmitos de todos os mistérios
até o último instante.
Nova e virgem então ela virá
e ao poema dará seiva e fervor.
Não acordar a palavra.
Deixar que ela durma no silêncio
o seu fecundo sono
até que como o sol desperte
e descubra as coisas
e nada deixe em escuridão e frio.
O poema então será verdade,
amor e carinho.

Diário da Tarde, Ilhéus - 14/03/1959. Edição 8.976.



QUANDO UM POEMA NASCE

Quando um poema nasce
há festa no coração.

Bailam ondas,
cantam fontes,
tocam sinos aleluias.

Amadas de longe vêm
vestidas de sol, de lua,
de arrebóis das montanhas,

nos seus seios
palpitando
todas as bondades do mundo,

nos seus sorrisos
esplendendo
todas as belezas do mundo,

nas suas vozes
fremindo
todas as alegrias do mundo.

Quando um poema nasce
há festa no coração.

Diário da Tarde, Ilhéus - 28/06/1960. Edição 9.338.


Poeta muito querido na Bahia, Firmino Rocha nasceu em Itabuna, em 07 de junho de 1910, faleceu em Ilhéus em 1 de julho de 1971. Exerceu grande influência em muitos poetas da sua geração e de gerações posteriores. Seu poema mais conhecido é “Deram um fuzil ao menino”. Em 2008, sob a batuta de Flávio Simões e com alguns colaboradores, fiz a recuperação da sua obra, inclusive de inúmeros poemas inéditos e fizemos publicar pela Via Litterarum.

Em breve:
Entrevista do mês com o artista plástico e mestre Sante Scaldaferri

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