Affonso Romano
de Sant’anna
Esses
festejos em torno de Joquim Barbosa - celebrado como o primeiro presidente negro
do Supremo Tribunal Federal me surpreenderam quando estava indo ao Maranhão.
Este estado, segundo a Fundação Palmares, é que tem com o maior número de
quilombos. Pelas estatísticas são 381 comunidades remanescentes do tempo da
escravidão, quando para ali foram trazidos negros da Guiné Bissau e de Angola.
Na Bahia, segundo estudo do Incra existiriam 387 comunidades distribuidas em
102 municípios. Sendo assim, a Bahia seria o estado com maior número de
quilombos
Segundo
as estimativas devem existir mais de mil comunides quilombolas no país.
Descubro que grandes concentraçõe urbanas como Belo Horizonte têm três desses
agrupamentos. Segundo os historiadores os negros que se encontram nos quilombos
fugiam não só da escravidão mas tentavam recriar o tipo de vida que tinham na
África.
É
revelador o fato de que passaram-se 100 anos para que os quilombos entrassem na
pauta dos políticos, da cultura e da economia. Ou seja, a abolição dos escravos
se deu em 1888, mas foi somente com a constitutição de 1988 que se considerou a
situação das terras dos ex-escravos e seus conhecidos direitos.
Quando
vi todas aquelas celebridades negras indo à festa em homenagem a Joaquim
Barbosa, em Brasilia, e quando li que mesmo a imprensa internacional abriu
espaço para esse fato, confesso que tive a sensação de que a Lei Aurea da
Princesa Isabel estava sendo sancionada pela segunda vez, que essas tres datas
tinha algo em comum: 1888, 1988 e 2012.
Essa
coisa de racismo no Brasil é complicada. Há uma piada (ou fato verdadeiro) que
narra que um estrangeiro comentou que no Itamaraty não havia preto. Alguem
retrucou: é verdade, mas também no Itamaraty não tem branco.
Houve
um outro Joaquim- também negro, Joaquim Maria Machado de Assis que certa vez
disse uma frase intrigante: “Libertado o negro, agora resta libertar o branco”.
Portanto,
temos dupla tarefa a realizar. E não podemos esperar mais 100 anos.
(Radio
Metropole, 29.11.2012)
2 comentários:
"Libertado o negro, agora resta libertar o branco." Machado deu um tapão de luva com essa.
M e chamou a atenção tambem esta ultima fala, libertado os negros agora resta libertar os brancos. na verdade o condicionamento mental(nesse caso o preconceito) não deixa de ser uma prisão.
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