sexta-feira, 30 de novembro de 2012

DOIS JOAQUINS E OS QUILOMBOS


Affonso Romano de Sant’anna

Esses festejos em torno de Joquim Barbosa - celebrado como o primeiro presidente negro do Supremo Tribunal Federal me surpreenderam quando estava indo ao Maranhão. Este estado, segundo a Fundação Palmares, é que tem com o maior número de quilombos. Pelas estatísticas são 381 comunidades remanescentes do tempo da escravidão, quando para ali foram trazidos negros da Guiné Bissau e de Angola. Na Bahia, segundo estudo do Incra existiriam 387 comunidades distribuidas em 102 municípios. Sendo assim, a Bahia seria o estado com maior número de quilombos
Segundo as estimativas devem existir mais de mil comunides quilombolas no país. Descubro que grandes concentraçõe urbanas como Belo Horizonte têm três desses agrupamentos. Segundo os historiadores os negros que se encontram nos quilombos fugiam não só da escravidão mas tentavam recriar o tipo de vida que tinham na África.
É revelador o fato de que passaram-se 100 anos para que os quilombos entrassem na pauta dos políticos, da cultura e da economia. Ou seja, a abolição dos escravos se deu em 1888, mas foi somente com a constitutição de 1988 que se considerou a situação das terras dos ex-escravos e seus conhecidos direitos.
Quando vi todas aquelas celebridades negras indo à festa em homenagem a Joaquim Barbosa, em Brasilia, e quando li que mesmo a imprensa internacional abriu espaço para esse fato, confesso que tive a sensação de que a Lei Aurea da Princesa Isabel estava sendo sancionada pela segunda vez, que essas tres datas tinha algo em comum: 1888, 1988 e 2012.
Essa coisa de racismo no Brasil é complicada. Há uma piada (ou fato verdadeiro) que narra que um estrangeiro comentou que no Itamaraty não havia preto. Alguem retrucou: é verdade, mas também no Itamaraty não tem branco.
Houve um outro Joaquim- também negro, Joaquim Maria Machado de Assis que certa vez disse uma frase intrigante: “Libertado o negro, agora resta libertar o branco”.
Portanto, temos dupla tarefa a realizar. E não podemos esperar mais 100 anos.

(Radio Metropole, 29.11.2012)

2 comentários:

João Marcos T. Theodoro disse...

"Libertado o negro, agora resta libertar o branco." Machado deu um tapão de luva com essa.

jorginho da hora disse...

M e chamou a atenção tambem esta ultima fala, libertado os negros agora resta libertar os brancos. na verdade o condicionamento mental(nesse caso o preconceito) não deixa de ser uma prisão.