Aquilino Paiva comenta Procura e Outros Poemas
Amigo,
Poesia boa é a aquela que dá vontade de botar no facebook, quando o Zuckenberg
pergunta "no que você está pensando?”.
Comento
seu livro porque gostei, gostei de mais de um poema, de mais de uma coisa
presente na obra. Digo isso por pensar que nos círculos de literatura tem muita
rasgação de seda, né, fica todo mundo se elogiando, então é melhor gostar de
verdade pra falar. Por outro lado, somos nós, os escritores e pretensos
escritores que temos, por obrigação mesmo, obrigação no sentido da arte, de dizer
sobre a tal arte que abraçamos, pois é pelo comprometimento que a arte pode, se
a gente merecer, nos abraçar também.
Vou
tentar passar longe do teoriquês da literatura. Gosto da tua poesia porque você
a coloca em função da mensagem. A arte tem que dizer algo, falar do mundo e da
vida. A palavra deve estar a serviço do pensamento, uma visão de mundo que
caminha com o verso. Foi assim que aprendi a gostar de poesia.
Outra
coisa é que você não comete o erro que vejo em muitos dos nossos poetas em
atividade, de fazer da poesia terapia pra falar de si mesmo. Ô praga de muito
poeta, só fala dos próprios problemas, resmungos e taras de toda ordem. E, como
são envergonhados, disfarçam tudo num palavrório sem pé nem muito menos cabeça.
Deus-que-me-livre e a poesia nos proteja.
A
outra coisa é o uso da forma, que exige do poeta estudo, talento e disposição
pra buscar a palavra certa, o verso torneado. Li nesta semana uma frase do
Pessoa, que diz: "Deve haver, no mais pequeno poema de um poeta, qualquer
coisa por onde se note que existiu Homero". Sempre pensei que tem uma
ideia que corre solta por aí do artista abençoado por um dom, uma mágica.
Sempre achei mentira, arte exige estudo e compromisso intelectual. A grande
obra não dispensa a beleza, o deleite estético, a inspiração, nem a tradição e
o conhecimento. Sei que você corre nessa raia. Parabéns por Procura.