quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Peleja Virtual entre Dois Vates Arretados

Lançamento ontém foi repleto de êxito
No inusitado Cordel, os poetas realizam uma peleja virtual, inspirados nas pelejas dos repentistas e emboladores. A diferença está basicamente na diversidade das estrofes. Em “A Peleja Virtual Entre Dois Vates Arretados”, os autores introduzem um narrador que inicia a contação em estrofes de seis sílabas. Após, o embate principia com estrofes de sete; passa pela de oito com o Oitavão rebatido; pela estrofe de dez sílabas; onze, com um Galope à beira-mar. Após, retorna o narrador com uma sextilha, abrindo espaço para a conclusão da Peleja com um acróstico de cada poeta.
Comenta Jotacê Freitas a respeito desse folheto que “a peleja é uma forma poética de disputa de qualidades e exibição de cultura, é importante rebaixar o oponente e exaltar-se para a platéia. Tradicionalmente, entre violeiros repentistas, os poetas saíam até na mão para resolver uma questão poética. No folheto premiado, os duelistas fazem uma exposição de vantagens pessoais e passeiam pela história da literatura grapiúna através dos seus maiores autores. Todo esse trabalho é construído com belos versos compassados pelas rimas, métricas e diversas formas do cordel, como pede uma boa peleja”.

Alguns trechos:

Narrador
Pelas vias da internet
Se encontraram certa vez
Dois poetas arretados
Todos dois com altivez
Prum embate curioso
Como assim nunca se fez

Narrador
Sem pandeiro e sem viola
Felicíssimo e Piligra
Começaram a peleja
E causaram muita intriga
Frente a um computador
Foi assim aquela briga:

GF
Neste meu Brasil andei
Sempre atrás de uma peleja,
Enfrentei muitos poetas,
Seu Piligra, não graceja,
Reze três Ave-Marias
Sete noites, sete dias,
Peça a Deus que te proteja.


PI
Não sou homem de peleja
Nem gosto de confusão,
Deus me ajuda todo dia
Mas de briga corro não,
Fique calmo seu Gustavo,
Não sou de levar agravo,
Peça ao padre a extrema-unção.

GF
Seu poeta falastrão
Ouça o meu enunciado,
Eu não peço extrema-unção,
Nem à corte do papado;
Faça como fez Camões
Peça a mim dois mil perdões
Que hoje estou endiabrado.


PI
Sou um homem batizado,
Devoto de São José,
Temo a Deus e sou cristão
E alimento a minha fé,
Perdão eu não vou pedir
Você pode desistir,
Poeta você não é.

E por aí vai.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Auto-retrato - Bocage

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Salomé, obra de Oscar Wilde originalmente escrita em francês ganha tradução de Ivo Barroso

O poema dramático “Salomé”, de Oscar Wilde, destaca-se pela intensa carga simbólica. A peça foi escrita em 1891, no seu melhor momento de produção literária. Escrito inicialmente em francês e depois traduzido para o inglês, o texto passou por sérias emendas que geraram críticas do próprio Wilde, que julgou o resultado decepcionante. Agora, a editora Berlendis & Vertecchia publica uma tradução de Ivo Barroso direta do francês, ao custo de R$32,00.
Para quem conhece “O Corvo & suas traduções”, organizado por Barroso, sabe que pode esperar um trabalho competentíssimo, ainda mais porque “Salomé” não só traz a história da princesa que dança sobre o sangue para o tetrarca Herodes Antipas, com o intuito de conseguir a cabeça de João Batista, mas também textos explicativos comparando as traduções em inglês e francês, curiosidades como os originais bíblicos que fundamentaram a peça, além de trechos relacionados de Fagundes Varela, Gustave Flaubert e Eugênio de Castro.
O tradutor ainda teve o cuidado para que a peça não perdesse a sonoridade e pudesse ser usada para ser encenada. Para que o leitor entre no clima, também foram selecionadas 16 pinturas relevantes que demonstram os diversos tratamentos artísticos do tema, assim como sua longevidade. As ilustrações vão do século XV ao século XX e incluem reproduções de obras de Rogier van der Weyden, Caravaggio, Ticiano, Jean Benner, Oscar Kokoschka, Frans Stuck, Gustav Klimt, entre outros.

Site da editora: http://www.berlendis.com

Mãe, lê pra mim

Campanha do Instituto Pró-livro estimula mães a lerem para filhos. Pais também devem entrar nessa!

Durante todo o mês de julho, a campanha “Mãe, lê pra mim”, do Instituto Pró-livro, será veiculada pela Rede Globo em spots de 30 segundos. Neles, artistas, formadores de opinião e outras pessoas darão seus depoimentos testemunhando como o incentivo à leitura dentro de casa influencia no processo de ler por prazer. Eu, que faço parte do Comitê do Proler aqui na minha região, estou feliz com essa campanha que pode beneficiar não apenas a indústria da livro (não sejamos bôbos), mas, sobretudo, uma geração inteira de mães que podem adquirir novos hábitos e assim formarem novos leitores, leitores para a vida. Os pais também devem entrar nessa!
O destaque é o ator Tony Ramos, que fala sobre a importância da leitura em sua vida. “A campanha nasceu a partir da análise dos dados da segunda edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a qual indica que 73% das crianças têm em suas mães a maior influência no hábito da leitura”, comenta Zoara Failla, gerente de projetos do Instituto Pró-Livro. O projeto do vídeo foi concebido durante a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, em 2009. Durante os dez dias do evento foram recolhidos depoimentos dos visitantes falando sobre quais foram seus principais incentivadores da leitura. Para ampliar a área de abrangência do “Mãe, lê pra mim?”, além de ampla divulgação na mídia, o IPL, com o apoio do Ministério da Cultura e o Plano Nacional do Livro e Leitura, distribuirá os vídeos da campanha em Pontos de Leitura do Programa Mais Cultura do Minc e juntamente com mais de quatro mil obras de literatura infantil e juvenil que beneficiarão 600 famílias.

Para conhecer mais sobre a campanha, assista ao vídeo: http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=1166

terça-feira, 6 de julho de 2010

Novo exemplar do Correio das Artes

Está disponível a edição de junho do Correio das Artes, o último número com Antônio Mariano como editor. A edição traz em sua capa o título "Memória Resgatada", com homenagem a Antônio Barreto Neto, um dos grandes críticos cinematográficos da Paraíba.
Constam da edição, entre outros, Gonzaga Rodrigues, o próprio Barreto Neto com um ensaio sobre o cinema de Glauber Rocha, todos publicados no livro "Cinema por Escrito", que saiu sob a chancela de A União. E mais: textos de Jomard Muniz de Britto, Hildeberto Barbosa Filho, Rinaldo de Fernandes.

Essa e edições anteriores podem ser conferidos no site:
http://www.auniao.pb.gov.br/v2/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=58&Itemid=67

Auto-Retrato - Manuel Bandeira

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Auto-Retrato - Mário Quintana


No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!

COMO ALFONSINA

Valdelice Pinheiro

Como Alfonsina,
mar-a-dentro,
eu queria morrer
buscando algas
e cavalos marinhos,
catando na árvore vermelha
de cada coral
os meus perdidos versos
e devolvendo à superfície
o som sem jeito
e branco
de meu amor
e minha solidão.

Em: Expressão Poética. Pág. 71. Organização de Maria de Lourdes Netto Siomões. Editus, Ilhéus, 2007.

Poemas e artigos sobre a poesia de Valdelice Pinheiro:
http://www.revista.agulha.nom.br/valdelice.html

sábado, 3 de julho de 2010

Um estigma cheio de letras

Analfabetismo é um problema histórico difícil de resolver agora
A menina de 4 anos chegou da creche com um bilhete em punho: "Manhêê, lê!" Maria Helena, de 36 anos, três filhos e uma panela na mão, olhou o papel e logo voltou os olhos para a pia. Mas a filha não deu sossego. A mulher, então, deixou a panela, pegou a mão da garota e o bilhete e foi em busca de alguém que fizesse o favor de "entender as palavras escritas". A pequena fincou o pé e desabou num choro: "Não! É a mãe que tem que ler, não vale a vizinha, a professora mandou!" Cida tem 40 anos, é irmã de Maria Helena e trabalha como empregada doméstica. Ao som de seu radinho de pilha, Cida cumpre seus afazeres. Mas basta o carteiro aparecer para tirar o seu sossego. Cida sabe assinar o nome, "todinho, em letra corrida: Maria Aparecida de Oliveira da Silva", mas basta segurar a caneta para se esquecer das letras. Espalhados pelas cidades, metidos em uniformes de garis, buracos de construção, casas de família ou salões de cabeleireiros, há no Brasil 14 milhões de analfabetos. Eles ganham em média R$ 430, ante R$ 962 para aqueles que cursam o ensino médio. São analfabetos absolutos, que frequentaram muito pouco uma escola ou mesmo nunca pisaram numa delas. Essa população aprendeu a levar a vida no jeitinho, reconhece o ônibus pela cor ou guarda receitas e informações importantes na memória. Analfabetismo é um problema histórico difícil de resolver agora, diz ao Valor o economista Naercio Aquino Menezes Filho, do Insper-Instituto de Ensino e Pesquisa, de São Paulo. Segundo ele, ao longo do século XX, o Brasil não se esforçou suficientemente para pôr todas as crianças na escola.

Fonte:
Valor Econômico - 02/07/2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Poeta Dante Milano

Relendo a breve, mas poderosa produção poética do mineiro Dante Milano (que também foi ótimo tradutor), me deparei com um texto conclusivo de Manuel Bandeira sobre sua obra. Diz ele: Dante Milano, nascido em 1899, estreou tarde em livro (Poesias, 1948), o que, se por um lado privou um grande público de mais cedo tomar conhecimento de um dos nossos poetas mais fortes e mais perfeitos, de, por outro lado, ao artista a vantagem de surgir em plena maturidade, sem cacoetes caducos dos primeiros anos do modernismo. A sua poesia é grave e pensativa – Mário de Andrade chamá-laia de “pensamenteada”. Exemplo singularmente raro em nossas letras, parece o Poeta escrever seus versos naquele indefinível momento em que o pensamento se faz emoção.

COMPOSIÇÃO
Dante Milano

Duas mulheres juntas
Formam desenhos dúbios

Se numa só há tantas,
As duas serão quantas?

Uma na outra transformo
E, misturando as formas,

No mesmo luar as banho,
Metamorfoses sonho.

Todas parecem uma
A quem a todas ama.

LEIA TAMBÉM
http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet241.htm